sexta-feira, 13 de março de 2009

O periquito das vontades

Era uma vez um periquito cheio de vontades, muito afobado esse periquito, tanto que até dava dó. Ele se tremilicava todo de tão euforico que ficava ao querer alguma coisa. Tinha vez que mal sabia o que queria o coitado do periquito. Ele voava, voava por ai, procurando a satisfação. Bicava ali, paparicava aculá, muito solidário esse periquito, pró-ativo e fanfarrão. Nada arisco, adorava as pessoas, fazia de tudo para estar perto delas, até aquilo que não se prestava a fazer o periquitinho fazia.
Sofria tanto, o periquito, com essas angustias, principalmente quando estavam fora de seu alcance realizá-las. Tinha mania de querer agradar demais quando gostava muito. Queria colocar todo mundo no colo ou pegar pela asa e sair mostrando a cidade inteira para seus chegados. Como adorava a cidade, contemplava a rua como ninguém. Periquito boêmio de primeira, adorava gente e tudo o que era novo, não aquele novo recém fabricado, e sim o novo para seus olhinhos de periquito curioso. Podia ter séculos de existência, mas sendo novo para os seus olhos era novo de tudo.
Certas vezes até batia aquela gastrite, normal em periquito ansioso, mas já estava acostumado, ele costumava querer por querer, mesmo sabendo que que não podia extrapolar, pisava em ovos pra não estragar a surpresa do futuro e sabia que precisava ser cauteloso para ajudar o momento presente. O periquito lutava contra a insegurança todos os dias, já sabia que desacreditar nas coisas não tava com nada, e quando aqueles pensamentos intrometidos insistiam em aparecer, ele logo entrava numa onda de otimismo. Era todo dia fazendo esse exercício, principalmente nos dias da gastrite.
Teve um dia que ele só queria agradar uma pessoa especial, aquela velha mania, nada mais que isso, tentou advinhar o que ela gostava, buscou inovações, temeu o exagero e parou por um instante para se perguntar no que ele gostaria que fizessem para agradá-lo. Imaginou que odiaria uma mentira que fosse contada só para agradá-lo e concluiu que preferiria que fosse natural, e que com o tempo as oportunidades viriam e fariam ele gostar muito dela.
Pensado e falado é o que antecede o dito e feito. O periquito conseguiu encontrar soluções para aliviar a angustia e agradar quem ele queria. Teve que se contentar em esperar, até mesmo porque tem gente que não gosta de muito paparico, e não se pode fazer muita coisa de longe do conhecimento, tem que chegar mais perto, conviver mais para saber, perceber o que parece e sentir o que é essencia. Só assim dá pra sentir a verdade e jogar com ela. Fazer dessas vontades loucas, passaportes para o bem-estar e a consciência leve. A pessoa que se agrade com o tempo e com o que é verdadeiro, definiu o periquito.
O periquitinho entendeu essas reflexções que a vida nos força a fazer, e começou a enxergar o mundo mais plano e menos denso, direcionou seus olhares para vários pontos, interligou todos eles e partiu para o abraço, e o abraço nem sempre era apertado como ele esperava, as vezes não encaixava como ele gostava, mas toda vez que era pra valer, o periquito sentia, não precisava falar nada, ele apenas conhecia aquele calor da verdade e a cor serena do que é sincero. E assim passou a controlar suas vontades, sempre experimentando abraços para sentir aquela felicidade tão gostosa que só o essencial consegue proporcionar.

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