sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Capitalista Sensível


Acordei ansioso, estava louco para o meu primeiro encontro com ela. Pulei da cama, tomei banho e vesti meu terno Colombo. Dirijo meu Fusca até a perfumaria para comprar um presente para ela. Chanel, Carolina ou Dolce? Escolhi a Carolina. A floricultura estava logo ali do outro lado da rua, compro rosas ou camélias? A atendente me oferece uma rosa especial vinda da Venezuela, linda, mas 5 vezes mais cara que a comum. Vou de Camélia. Penso comigo mesmo - Devo comprar Bombons? Melhor não, incentivo ela a cuidar do corpo. Tudo pronto. Vou encontra-la naquele café da avenida Goiás, depois podemos ir ao cinema quem sabe, tudo depende.
Que trânsito horrível é esse? Essa Veraneio na minha frente não me deixa enxergar nada. Ah, não! Vou chegar atrasado.
Mas o que é isso? Quanta gente! "PELA REDUÇÃO DA JORNADA DE TRABALHO" - Leio um cartaz. Ah, não! Greve de novo não. Eu vou ficar preso por horas nessa via e ela vai ficar me esperando à toa. Deixo o carro do jeito que parei e me enfio no meio da multidão protestante. Com as camélias rosadas em uma mão e perfume na outra. Ei, cuidado com as flores, grito para um. O outro esbarra no meu braço, deixo cair o pacote com o perfume, por sorte não quebrou, só amassou um pouco o papel de presente. Andamos um passo por segundo. Está super apertado, até parece carnaval. "PELO AUMENTO DO SALÁRIO DO METALÚRGICO" - Escuto uma voz rouca falando no microfone. Olho no relógio, já estou 40 minutos atrasado. Espero que ela esteja me esperando. Chego no Franz Café, em vão. O lugar estava fechado, o dono devia estar com medo da multidão. Paro por um momento cansado e desolado em frente a porta de vidro. Respiro fundo e tento me olhar pelo vidro, de repente vejo ela pelo reflexo, em meio a multidão, gritando e protestando. Vou atrás, e como se estivesse em câmera lenta me desvio das pessoas. Vou ao seu encontro, toco em seu ombro. Ela se vira e se depara comigo suado, descabelado, com um pacote amassado e as camélias. Ela se impressiona e se envergonha ao mesmo tempo. Havia esquecido do encontro marcado comigo. Mas agora não faz mau, ela aceitou os presentes e agradeceu com um beijo. Depois nós dois juntos continuamos a caminhada rumo ao palanque.


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