Hoje eu acordei com tanta fome que me deu até dor de cabeça. Então fiz
dois pães de forma na torradeira, enquanto o pão esquentava, coloquei o café, que já estava gelado, por um minuto no micro-ondas. Acrescentei um creme no
café, aqui em Chicago eles fazem muito isso, e acabei pegando essa mania do
creme, na verdade eu troco o açúcar por ele. Não sei se é mais saudável, mas é
mais gostoso.Pois bem, no
pão quente passei maionese e acrescentei uma fatia de mozarela e outra de rosbife,
peguei meu prato, minha caneca e fui até a mesa.
No caminho uma banana me encarou pedindo para que eu a levasse, evitei.
Café com banana não combina no meu estômago. Após terminar de comer minha dor
de cabeça havia passado, mas a banana continuava a chamar atenção, ainda não
era hora.
Fui tomar banho. Já no chuveiro, comecei a lembrar da minha infância e
de como era meu relacionamento com as frutas. Foi aí que resolvi escrever este
texto do jeito como Clarice me ensinou, deixando as palavras fluir e conversando
com o leitor, mas isso é outra história, tudo bem?
As bananas por exemplo, eu gostava com mais frequência, comia quase
todos os dias, mas eu sempre dava um jeito de acrescentar leite condensado, sempre
que tinha em casa. Gostava de pensar que ela ficava menos chata daquele jeito,
e muito mais prazerosa também. Era sinônimo de sobremesa sofisticada pro meu
paladar. Criança deve ter parentesco com formiga pra gostar tanto assim de doce,
só pode.
Com as laranjas acontecia totalmente ao contrario, meu amigo Josi e eu adorávamos
colocar sal na coitada da laranja, é isso mesmo: sal! Dava um gosto especial
para aquela fruta, tirava sua chatice, que era ou naturalmente doce ou
estranhamente amarga. Quando chupávamos a laranja com sal nos dava uns tremeliques,
uns arrepios e ficávamos felizes naqueles poucos minutos. A vó do Josi não
entendia o porque fazíamos aquilo, mas deixava, como é de costume das vós,
deixar. E assim fomos descobrindo desde pequenos que era possível mudar o gosto
da vida. De amargo para azedo, de azedo ou doce para especial.
As goiabas eram sim as especiais e minhas preferidas, ainda hoje é, só
não cruzo tanto com elas. Gostava de come-las puras, recém tiradas do pé que
havia no meu quintal. Que tristeza cortar aquele pé de goiaba para fazer uma
garagem para dois carros. No fim, se colocam dois carros naquela garagem fica muito
apertado. Preferiria a goiabeira em seu devido lugar, com certeza.
Melancia, melões e mamão nunca foram a minha praia, a não ser que minha
mãe fizesse uma salada de frutas com suco de laranja e leite condensado. Era de
praxe aos domingos se tivéssemos ido à feira aos sábados de manhã. Ela poderia
colocar todas as frutas que houvesse na fruteira, não ligaria. Ali naquela
tigela todas elas se tornavam especiais, e a chatice que existiam desapareciam.
Comia satisfeito aquela salada lindamente colorida.
Hoje em dia tenho prazer em colocar uma fruta na boca ainda pura e
testar meu paladar, qualquer uma, pois sou forte. Ainda reclamo internamente, mas
dessa vez o motivo é outro. Aqui as frutas não tem o mesmo gosto que tem no
Brasil, as frutas da casa da minha mãe são mais saborosas, mesmo puras-chatas.
Não sei se o gosto das frutas americanas é uma desculpa para usar leite
condensado sem culpa, se realmente são menos suculentas, ou se minha infância
que é doce. Talvez elas sejam mais chatas que as brasileiras mesmo, não sei. O
bem da verdade é que não ligo, pois hoje me contento com as frutas do jeito que
elas vieram ao mundo e as prateleiras, puras. Me contento pois me faz sentir o
gostinho da primeira vez, é interessante como cada fruta tem seu gosto
peculiar, digo cada fruta colhida e não cada tipo de fruta. Uma dúzia de maças
te proporcionarão doze sensações diferentes, é batata! Algumas chatas outras
nem tanto, é verdade.
Entendo agora no final deste texto que só as chamo de chatas hoje para
lembrar do tempo bom de infância, quando criar novas formas de gostar delas era
natural. Bom, agora chega dessa conversa que a banana está lá me esperando.
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